Em 2010, o coletivo migrou para o bairro de Cidade Dutra no intuito de se aproximar de uma região relacionada à represa de Guarapiranga na periferia da Zona Sul.

O bairro, situado entre as duas grandes represas da cidade, Guarapiranga e Billings, agrega o discurso do interesse especulativo das “praias paulistanas” em torno da represa, atraindo a classe média para a região, ao passo que outros moradores são empurrados para os bolsões de pobreza, situados em lugares mais distantes, em áreas que ainda não foram alvo de novos investidores.

Vale ressaltar a importância dos mananciais da cidade como áreas de preservação ambiental. No entanto, essa não é uma pauta real na discussão sobre o “bem estar na cidade”. O discurso ambiental é sempre usado como retórica para mascarar as verdadeiras causas materiais dos conflitos. A pauta ambiental costuma ser desculpa para as expulsões da população mais pobre, que não é tomada pelo poder público como grupos a ser atendidos, mas é banida de determinadas áreas de interesse, mesmo sabendo que esta população provavelmente irá ocupar outra área de preservação ambiental em torno das represas, em outro ponto do mapa.

No CEU Cidade Dutra nos lançamos para alguns novos desafios: tentar trabalhar em parceria com professores de diferentes disciplinas, trazer ainda mais os estudantes para o papel de produtores-criadores e pensar nas “trilhas urbanas” como um acontecimento poético de ocupação do espaço público.

Tivemos nesse processo três grandes parceiros: Rosana Cognolato, a coordenadora que esteve ao lado da organização e execução de todo o trabalho; Angelo Flores, o professor de Artes que atuou diretamente no projeto, cedeu suas aulas e trouxe um tempero musical para o trabalho; e Lia (Maria Lucia dos Santos), a professora de Geografia, que além de ceder suas aulas, contribuiu para ampliar os mapeamentos feitos com os participantes. Além deles, outros professores também deram suas colaborações mais pontuais, porém não menos importantes, participando ativamente das trilhas urbanas.

O trabalho foi realizado por 9 turmas. Elencamos com eles os sabedores do bairro a entrar na escola para nossa troca, entre os quais os avós de um estudante, Sr. Adagoberto e D. Ricardina, que contaram sobre a ocupação da região. Karai Mirim relatou a ocupação Guarani na região sul e moradores do Pq. Cocaia falaram sobre sua luta por moradia na Rede Extremo Sul, entre outros convidados, que aprofundaram as questões sobre os mananciais, moradia e os interesses especulativos na cidade.

Nas chamadas trilhas urbanas cada turma fez um trajeto diferente no intuito de se aprofundar em um dos temas levantados: moradia, questões hídricas, desigualdade social, história do bairro, entre outros.

Ao final do trabalho foi feita uma instalação na escola juntamente com um documentário produzido com os participantes e estudantes. Junto disso foi produzida uma revista com escrita coletiva entre estudantes, moradores, entrevistados e integrantes do coletivo; a revista foi distribuída na biblioteca da escola e nos espaços culturais do bairro.

Para a realização desse projeto o coletivo teve o subsídio do edital do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais (Prefeitura da Cidade de São Paulo).

Cidade Dutra